Chamamos dois especialistas da área de crédito para compartilharem sua visão sobre como as análises de crédito devem se transformar com o Open Finance. Do escopo das fintechs até o impacto de análises mais segmentadas na modelagem de scoring, confira alguns dos tópicos abordados.
As fontes de dados convencionais normalmente usadas nas análises de risco de crédito estão se tornando cada vez mais obsoletas e insuficientes tendo em vista os novos padrões financeiros da população. Especialmente devido à pandemia da COVID-19, vemos cada vez mais pessoas e empresas recorrendo ao crédito para compor seu orçamento. Logo, uma análise de risco mais assertiva se torna ainda mais necessária, tanto para facilitar o acesso ao crédito quanto para evitar inadimplência.
Para falar mais sobre esse tema, convidamos dois especialistas para um webinar onde falamos sobre as mudanças na análise do crédito após a pandemia e como o Open Banking, ou Open Finance, será um fator chave para a elaboração de melhores processos quer beneficiem tanto as empresas quanto os usuários. Participaram da conversa Rafael Pereira, co-fundador da OpenCo, fruto da fusão das fintechs Rebel e Geru, e presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), e Henrique Seije, Consumer Credit Risk Manager na BTG+, novo banco completo da BTG Pactual.
1. Mais fin ou mais tech?
Quando falamos sobre disrupção no cenário fintech, uma das perguntas mais frequentes é se as empresas do meio se caracterizam mais como empresas financeiras ou empresas de tecnologia. No caso do crédito, o questionamento também é válido. Para Rafael Pereira, da OpenCo, as fronteiras entre os diversos tipos de negócios estão cada vez mais nebulosas, como é o caso das empresas de ERP que começam a antecipar recebíveis graças ao acesso a informações como de fluxo de caixa e pagamentos ou ainda as empresas de delivery que passam a fazer parte também da cadeia financeira. “Vamos conviver num mundo onde é muito mais difícil definir se a gente é uma fintech que é mais tech ou mais fi. Temos um modelo de negócio muito mais de ecossistemas, onde justamente entra o contexto do Open Banking”, afirma Rafael.
2. Processos mais transparentes para o cliente
Para as empresas que lidam com crédito, o que define o risco de crédito é a habilidade de conseguir ser preditivo. A operação se trata de liberar recursos para o cliente em adiantamento, logo é preciso haver uma programação do fluxo de repagamentos. Para isso, essas empresas precisam estimar a probabilidade de ocorrência desses eventos de acordo com o fluxo original.
Para Pereira, o maior desafio é tornar todo esse processo de análise de risco o mais simples e imperceptível o possível para o cliente. “O cliente não quer o empréstimo em si, ele quer algo porém não tem recursos suficientes para adquirir, e ele precisa de uma solução. Nós somos os intermediários entre o que ele quer e o que ele precisa, então o que a gente tenta fazer é que ele tenha a experiência mais fácil e conveniente possível, para que ele consiga chegar onde precisa”, afirma.
O maior desafio é a tecnologia, pois é preciso muita inteligência artificial e dados para criar essa experiência, não só no momento da contratação do crédito mas também durante todo o ciclo de relacionamento com o cliente, que é normalmente de longo prazo de acordo com o tempo necessário para a quitação do crédito concedido.
Para Henrique Seije, da BTG+, o foco está na criação de modelos pra aprovar o maior número de clientes possível e com uma inadimplência controlada. “Uma tendência muito forte que a gente vê nos players que ja surgem nesse novo cenário mas também nos bancos tradicionais tanto aqui quanto fora do Brasil, é de ter um Apetite de Risco voltado para o negócio. Uma PDD controlada que fale muito com a rentabilidade desejada, com a taxa a ser cobrada, para cada produto, cada canal de venda”, declara.
Em relação a experiência do cliente, Henrique também acredita na transparência desde o momento de abertura da conta e do onboarding até os produtos associados à conta durante o ciclo de vida do cliente. “Não é só nos 5 minutos que o cliente leva para contratar o crédito ou abrir a conta. É o ciclo todo abrangendo o crédito oferecido, o processo de cobrança, a necessidade de eventualmente dar mais dinheiro, refinanciar, ofertar outro produto. E acho que essa experiencia da gestão do portfólio é uma tendência que o Open Banking deve ajudar a melhorar”, afirma Seije.
3. Maior (e melhor) segmentação de perfis nas análises de crédito
Com a pandemia, todos os negócios tiveram que se digitalizar muito mais rápido e a sociedade foi obrigada a se digitalizar de forma mais rápida para se adequar ao novos padrões. A velocidade de digitalização dos serviços financeiros acelerou exponencialmente. Porém, para Rafael Pereira, quando o assunto é o perfil dos usuário, não é possível nivelar pela média. Para ele, a pandemia fez com que análises muito amplas caíssem por terra para abrir lugar para uma microsegmentação, buscando oferecer uma análise mais individualizada de cada perfil.
“Quando a gente olha pela média, os resultados são inconclusivos. Quando segmentamos pudemos ver que a pandemia criou extremos, algumas pessoas saíram dela melhor, algumas pessoas ela pouco impactou, e outras cujo seu efeito foi bastante destrutivo”, afirma Pereira.
4. Open Banking vai propulsionar ofertas mais inteligentes
Tanto a OpenCo quanto a BTG+ já enxergam o Open Banking como um agente importante para propiciar melhores análises de crédito. “Já usamos para poder acompanhar melhor a saúde financeira dos nossos clientes. [Na pandemia], começamos a enxergar clientes com parcelas [de crédito] em dia mas com mais saldo em conta. Vendo isso, passamos a encorajá-los a antecipar parcelas para diminuir os juros. Conseguimos segmentar as coisas e tratar os casos diferentes com base em analises data-driven. Temos milhões de clientes, não dá para ligar para todo mundo pra entender o que está acontecendo, temos que fazer de uma forma que de pra olhar para a base e traçar perfis bem definidos que se pareçam muito”, declara Rafael.
5. Modelos de scoring exportáveis e processo de modelagem
No Brasil, estamos em um processo acelerado de evolução e de ganho de maturidade de crédito. Henrique Seije conta que há pouco tempo as empresas se baseavam apenas em informações negativas para fazer suas análises. Hoje, como o cadastro positivo, a situação deveria melhorar, porém não é bem isso que acontece. “Ainda não temos a certeza ainda não temos a certeza de que os juros estão realmente sendo direcionados da maneira correta para cada pessoa porque esses scores positivos estão num processo de ganhar mais maturidade”, declara. “Temos observado muita mudança até no processo de modelagem com informações positivas, seja nos bureaus ou até nas empresas ou bancos que tenham uma área específica para isso”.
Henrique completa afirmando que esse processo deverá ser acelerado por tudo que o Open Banking pode trazer e também pelo acesso a dados alternativos, como o histórico de compras de grandes varejistas, algo que caracteriza o conceito de Open Finance, uma extensão do Open Banking que vai além dos dados bancários.
Veja o webinar na íntegra aqui.